Transplante de medula óssea e avanços no combate ao HIV
A medula óssea é um órgão difuso, encontrada no canal medular dos ossos longos e nas cavidades dos ossos esponjosos. A medula óssea contém muitas células-tronco, capazes de diferenciar-se em vários tecidos, e células sanguíneas em diferentes estágios de maturação. As células-tronco pluripotentes hemocitopoéticas da medula óssea se diferenciam nas células linfoides multipotentes e nas células mieloides multipotentes, que são percussorasdas linhagem linfoide e mieloide, respectivamente, das células sanguíneas.
O transplante de medula óssea é um tratamento proposto para algumas doenças que afetam as células sanguíneas e consiste na substituição da medula óssea afetada por células de medula óssea saudáveis. O transplante pode ser autogênico ou alogênico. No transplante autogênico, a medula doada é do próprio paciente, já no transplante alogênico, a medula vem de um doador compatível.
O HIV-1 é um retrovírus que, durante sua infecção, liga-se à glicoproteína de superfície celular CD4 dos linfócitos T, da linhagem linfoide das células sanguíneas. Os dois receptores mais relevantes na replicação do HIV-1 é o CCR5 e o CXXR4. Deleções CCR5-delta32, no gene que codifica CCR5, causam variações genéticas, no qual indivíduos heterozigotos para o gene com deleção apresentam os sinais clínicos da AIDS mais tardiamente, enquanto os homozigotos apresentam resistência à infecção e desenvolvimento da doença.
O "Paciente Berlim" é o caso de cura do HIV-1 mais conhecido e sua cura se deve a um transplante de medula óssea. Anos após sua infecção pelo vírus do HIV-1, em 2007 o paciente foi submetido a quimioterapia, irradiação e medicamentos de imunossupressão, o que permitiu a realização de um transplante alogênico de medula, pois sofria de leucemia mieloide aguda. Seu doador era homozigoto para a deleção do CCR5-delta32, condição que confere resistência ao HIV-1. Após o primeiro transplante de medula do paciente Berlim, foi interrompida a terapia antirretroviral e os exames realizados meses depois demonstraram que o número de cópias de RNA viral tornou-se indetectável. Foi realizado ainda, um segundo transplante de medula óssea e seus índices de infecção pelo vírus permaneceram indetectáveis até publicação dos últimos estudos.
O transplante de medula mostra-se uma via promissora de tratamento para o HIV-1, entretanto, encontrar doadores com a mutação homozigótica específica de CCR5-delta32 permanece um desafio.
Referências bibliográficas
- Hütter G, Ganepola S. Eradication of HIV by transplantation of CCR5-deficient hematopoietic stem cells. Scientific World Journal, 2011 May 5;11:1068-76.
- JUNQUEIRA, L. C. et CARNEIRO José. Histologia básica - 11.ed. - Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.
- LIMA, Fábio da Cruz. Novas abordagens terapêuticas com células-tronco na cura do HIV - revisão de literatura. 2014. Monografia - Universidade Federal da Bahia, Salvador (Bahia),2014.